E que a minha loucura seja perdoada
Porque metade de mim é amor
E a outra metade também.

quarta-feira, 20 de junho de 2012

A Chave de um Coração - Capítulo 15


Capítulo 15

Ninomiya Kazunari apareceu no hotel para pegar Débora meio dia em ponto. Ela acabara de sair do banho quando ele bateu na porta do quarto. Novamente aquele boné, em uma tentativa frustrada de esconder o rosto. E um sorriso de orelha à orelha.
− Uhm... ohayou! – ele se adiantou para dar um beijinho na bochecha de Carol quando ela abriu a porta.
Ohayou! – ela retribuiu o beijinho dessa vez. É, em tão pouco tempo Dé tinha contaminado o rapaz com os modos de cumprimento brasileiros.
− Deb está?
Demorou alguns segundos para relacionar o nome à pessoa; ela ainda não se acostumara com o novo apelido da amiga.
Hai! – respondeu, enquanto Débora aparecia às suas costas, já vestida para sair, maquiada, com os cabelos molhados do banho.
Ikimasho ka? – Dé se adiantou e, passando a frente de Carol, pegou a mão de Ninomiya.
Ikimasho! – Nino segurou a mão dela, aproximou os lábios de seu rosto e tocou-lhe levemente a bochecha. – Jya ne, Karorine-san.
− Volto antes das 3h. – disse Débora - Jya!
Sem esperar pela resposta de Caroline, os dois seguiram pelo corredor até o elevador, e em menos de um minuto, já tinham ido embora. Pareciam um casal de namorados, com as mãos entrelaçadas daquele jeito. O que a Débora está pensando afinal?, ela refletiu enquanto fechava a porta.
Ficaria sozinha. Almoçaria sozinha. Carol olhou no relógio e por hábito resolveu que ia descer para almoçar, embora tivesse comido alguns biscoitos doces enquanto Dé estava no banho. Mesmo assim, achou que seria de bom tom descer para comer. Além do mais, queria ver algum movimento, já que sequer saíra daquele quarto ainda.
No restaurante, se sentou a uma mesa de canto. O garçom, que já estava se acostumando com a presença dela e da amiga, estranhou que ela estivesse sozinha e comentou isso. Ao que ela simplesmente respondeu:
− Ela foi almoçar com um amigo.
Carol fez o pedido e o rapaz saiu em direção à cozinha. Ela então pôs a mão sobre o queixo e apoiou o cotovelo na mesa. Pôs-se a pensar. Por Deus, ela só fazia isso nos últimos dias! Pensar! Não sabia como ainda seu cérebro não havia fundido! Isso era um mistério para ela.
A conclusão tão óbvia que ela enxergara aquela manhã devia tê-la reconfortado de alguma maneira. Dar-se conta de que elas iam embora afinal deveria tê-la aliviado de alguma forma, mas não. Pelo contrário, deixou-a triste. Será que veria Matsujun de novo? Provavelmente não. Então, voltaria a ser somente mais uma fã brasileira dentre milhares que seguiam a vida do cantor por reportagens, matérias jornalísticas e o viam em fotos e vídeos.
Será que dali a alguns anos, ou mesmo meses, ouviria a notícia do casamento dele e de Yui? Será que então ele se lembraria de Caroline? Será que ainda trocariam cartas?
A ideia de continuar trocando cartas indefinidamente era estranha agora que o conhecera. Agora que ele a conhecera. É, talvez aquela viagem ao Nihon fosse o fim da amizade dos dois, afinal.
De repente, Carol foi tomada por uma sensação horrível de perda e uma tristeza descomunal a atingiu. Sentiu os olhos encherem de lágrimas ao praticamente ver a cena. Ela e Dé no aeroporto, com os meninos, talvez a Yui também. Ela dizendo “adeus” para Matsumoto Jun pela última vez.
O garçom voltou com sua comida quando uma única lágrima solitária escorreu por sua face.
 − Arigatou. – ela disse, secando a bochecha e os olhos com as costas da mão enquanto ele deixava o prato na sua frente.
 − Ano... aconteceu alguma coisa com a senhorita? Não está se sentindo bem? – o moço parou e ficou olhando para ela, com um sorriso complacente e olhar um pouco ansioso. Ele não entendia as lágrimas femininas nem gostava de ter de lidar com elas.
 − Nandemonai. – Carol sacudiu as mãos e sorriu, como para mostrar que estava bem.  
 Ele saiu e ela se distraiu um pouco da tristeza repentina e se focou no alimento que tinha adiante dos olhos. Já não estava mais chorando.
 Ela não gostava de chorar na frente dos outros. Isto a tornava frágil. Fazia-a parecer vulnerável. Então, engoliu todo o desalento que sentia. Mas ela chorara ontem no show, e aquilo não pareceu incomodá-la. O sorriso de Jun ofuscava todo o resto.
 Ah, de novo ele! Caroline tinha que parar com isso logo, antes que a coisa toda piorasse. Débora havia lhe alertado. Dissera aquilo, né? Que ela ia acabar se apaixonando pelo Jun. Carol estremeceu ao pensar que isso podia estar acontecendo, e deixou cair um pedaço de pepino novamente no prato.
 Mas Débora já não tinha mais moral nenhuma para dar conselhos. Lá estava ela agora, com o Ninomiya, almoçando, e os dois estavam apaixonados. No fim, foi exatamente isso, ela deixou que seu amor pelo ichiban virasse um amor de verdade. Oras, então Débora não tinha mais direito algum de palpitar!
 Deixou o prato vazio na mesa, se levantou e sem nem olhar para os lados, seguiu direto para o elevador. Ainda bem que ele estava parado no térreo!

***

Yui pegou o celular e ligou. Chamou uma, duas, três, quatro vezes, até que seu namorado atendeu.
Moshi-moshi!
Yui, amor, estava com saudades... – ele disse, mas sua voz não demonstrava todo o entusiasmo que ele queria.
Ela revirou os olhos. Por que ele não era simplesmente sincero? Mas resolveu entrar no jogo e disse, toda melosa:
− Eu também, vida! Vocês já estão no estádio? Ah, é uma pena, mas não conseguirei sair daqui antes das 5h da tarde. Então terei que ir direto, sem nem poder passar no camarim pra te dar um beijo.
Uhm. Por que vai sair tão em cima da hora? – sua voz era indiferente, como se não importasse se ela ia chegar a tempo pro show, se chegaria atrasada ou se nem ia.
Yui sentiu a raiva aumentar e quis matar a “fulaninha”. Sabia que ela tinha culpa no cartório, só não sabia qual a extensão dessa culpa.
−Surgiram uns probleminhas aqui, e meu chefe pediu pra eu ficar um pouco mais.
Tá bom então, eu entendo. Que pena né? A gente se vê depois do show então?
Hai! – ela respondeu, enquanto procurava a chave do carro na bolsa.
Jya ne Yui. Kisus.
Kisus – ela desligou o celular e jogou dentro da bolsa aberta, pendurada no braço, enquanto com a mão livre abria a porta.
Ela já planejara seu itinerário. Olhou no relógio. Eram 3h ainda, dava tempo. Tudo que ela queria era dizer umas verdades. Queria que a burajirujin ouvisse o que ela, Uemura Yui, tinha a dizer.

***

Carol estava no quarto. Dorminhoca como era, e para evitar pensar besteiras, ela simplesmente se jogou na cama depois do almoço. Remexeu-se, se espreguiçou e olhou no relógio. Débora já devia ter chegado.
Ficou em pé e com um longo bocejo caminhou até o banheiro. Estava com a cara toda babada do lado que ficou de encontro ao travesseiro. Olhou-se no espelho: além de babada, estava toda amassada e vermelha. Abriu a torneira, uniu as mãos em concha e jogou água no rosto.
Enquanto se enxugava, alguém bateu na porta. Será que a Débora esqueceu o cartão?, pensou enquanto ia até a porta. Olhou pelo olho mágico e não acreditou. Parada ali, estava Uemura Yui, a namorada de Matsumoto Jun.

***

Quando Débora entrou no hotel, Yui estava indo embora. Passou por ela sem olhá-la e saiu batendo o pé. O manobrista já trouxera o carro e deixou a chave na ignição com a porta aberta, então ela somente entrou e arrancou, pisando fundo no acelerador.
Nino, que estava com o carro estacionado atrás do dela, olhou espantado, mas não disse nada, já estava dando partida também. Eram quase 5h e ele dissera que estaria no Estádio às 3h. Se não chegasse em cinco minutos, estaria ferrado. Se é que já não estava ferrado. Matsujun devia estar cuspindo fogo pelas ventas. Mandou um beijinho para Deb e foi embora.
Débora seguiu apressada para o quarto, ela sabia (na verdade, ela sentia mais do que sabia) que Uemura Yui foi até o hotel por causa de Carol. Estava preocupada com a amiga. Desde o princípio achara que essa namorada do Matsumoto não era lá muito boazinha. De repente, teve medo que ela tivesse brigado com Caroline, batido nela ou algo assim. Sem paciência para esperar pelo elevador, correu escadas acima e logo estava parada, ofegante, em frente à porta do quarto procurando o cartão na bolsa.  
Achou o cartão, abriu a porta e avançou, gritando:
− Carol! Carol!
− Calma, Dé, to aqui no banheiro – Carol respondeu com a voz meio falha de quem ainda estava se recuperando de um golpe. 
Ela correu para o banheiro e encontrou a amiga sentada na tampa do vaso sanitário, com as pernas dobradas, como índio, os cotovelos apoiados nos joelhos e a cabeça descansando nas mãos. Tinha os olhos vermelhos e brilhantes de quem andara chorando.
Débora foi até a amiga e a abraçou.
− Carol, o que aconteceu?

***

− Cadê o Ninomiya?! – Matsumoto Jun andava de um lado para o outro, passando as mãos nos cabelos a cada cinco segundos.
− Matsujun, assim você vai fazer um buraco no chão – disse Ohno, e os quatro riram.
− Ele disse 3h! Já são mais de 5h!
− Eu sei – Sho também estava preocupado.  Faltava menos de meia hora para o show começar.
− Ele deve estar chegando – comentou Aiba, aparentado uma calma que ele na verdade não tinha, pois sempre ficava muito nervoso antes de um concerto, ainda mais com um integrante faltando.
− Eu vou tentar mais uma vez! – Jun pegou novamente o celular.
Na última hora, tinham ligado umas 20 vezes e Nino não atendia ao telefone. Chamava até cair na caixa postal. 
Quando Matsumoto ia praguejar novamente, já que caíra outra vez na caixa postal, Ninomiya adentrou o camarim.
Minna! Konichiwa! – ele ergueu a mão direita em cumprimento.
Jun fuzilou o amigo com os olhos.
− Onde o senhor estava, Ninomiya Kazunari?
− Estou vindo do hotel agora, fui deixar a Deb...bora-san.
A cólera de Jun passou e ele foi assaltado por uma esperança fugidia. Queria que Caroline o visse cantando novamente, mas não conseguira ingressos para os dois shows.
Ano... – Jun sentiu o calor da ansiedade subir e temeu que tivesse deixado transparecer. Tentou parecer casual – Você viu a Karoru-chan? Ela... e Débora-san... vêm?
− Não vêm, você sabe, não tinha mais ingressos, nem nada. Mas não a vi não – Kazu caminhou calmamente para o sofá; ainda faltavam vinte minutos e ele queria descansar um pouco.
− Só que eu vi outra pessoa lá – continuou – Yui-san estava saindo apressada quando deixei a Deb. – ele falou Deb na frente de todos e nem notou.
Jun arregalou os olhos, encarando o outro desacreditado:
− Êeeee? A Yui???

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