E que a minha loucura seja perdoada
Porque metade de mim é amor
E a outra metade também.

sexta-feira, 22 de junho de 2012

A Chave de um Coração - Capítulo 16


Capítulo 16

O celular dela tocou quando ela estava manobrando para conseguir estacionar o carro na única vaga disponível num raio de 1km do Estádio.
 Yui simplesmente ignorou e continuou girando freneticamente o volante.
 Dois segundos depois que parou de tocar, ele começou de novo. Yui olhou para sua bolsa no banco do passageiro, soltou o ar por entre os dentes, com olhar de tédio, e pegou o celular. No visor aparecia: Matsumoto.
 O que será que ele quer a essa hora?, pensou enquanto atendia. Ela já estacionara mais ou menos o carro, então desligou e cruzou as pernas.
 − Moshi-moshi. Jun, amor?
 − Yui, onde você está agora? – ele perguntou, com tom de poucos amigos.
 − Acabei de chegar ao Kokuritsu. Demorei uns dez minutos pra achar uma vaga. Estou saindo do carro. Desculpe não ter...
 − Shhh! Onde você estava?
 Yui se remexeu no assento. Que pergunta descabida era aquela? Ela ligara dizendo que iria se atrasar.
 − Estava na revista.
 − Não estava e eu sei que não estava! Yui, você me enrol...
 Ela ouviu um berro ao fundo, provavelmente de um dos staffs, avisando que faltavam apenas vinte minutos para o início da apresentação. Jun se interrompeu no meio da frase e mudou a conversa.
 − De qualquer forma, Uemura Yui, nós teremos uma conversa séria depois do show, viu? – e desligou. 
 O que foi aquilo? Ela não entendeu nada. Mas por algum motivo teve um mal pressentimento.  Será que ele desconfiava de alguma coisa? Será que aquela burajirujin, além de baka, era fofoqueira?
 Suspirou e largou o aparelho na bolsa aberta. Ligou novamente o carro e terminou de estacionar. Depois saiu em direção a entrada sacudindo a cabeça. Não, impossível. Ela não teria ligado para ele, teria?
 Contudo, era a única justificativa para ele ter ligado e falado daquele jeito com ela.

***

− Carol, por favor, me conte o que houve – pediu Débora – Você está quieta desde que cheguei, faz quase vinte minutos!
Caroline estava abraçada à amiga, ainda sentada no vaso sanitário, e Dé estava em pé ao seu lado. Não derrubava lágrimas nem emitia som algum; se não fosse pelo respirar constante, alguém poderia dizer que ela estava em estado de choque ou coisa assim.
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Pequeno flashback [3]

Yui foi entrando no quarto como se fosse a dona do hotel e empurrando-a até ela cair sentada na cama. E depois palavras rudes, gritos e ofensas. E ela, Caroline Ferraz, novamente não abriu a boca, não conseguiu se defender, não disse nada, só escutou, e a certa altura, lágrimas começaram a rolar por sua face enquanto a invasora, Uemura Yui, disparava uma rajada de flechas venenosas.
Quem Caroline pensava que era? Por que escolhera o Matsumoto, seu Matsumoto, para atormentar? Por que fora até o Nihon? Já não era mais do que o suficiente a ridícula troca de cartas? Aliás, Yui já falara um monte pra ele largar essas malditas cartas, esquecer essa fã burajirujin baka.
Mas não, não Matsumoto Jun. Ele colocara uma coisa na cabeça e quando isso acontecia, ele era teimoso. Teimoso como uma mula! Baka ele também, que ficou dando corda pra Caroline! Desde aquela primeira carta, ele nunca deveria ter respondido! Devia era ter fingido que nada tinha acontecido e pronto, com certeza a vida seria muito mais bonita assim, muito mais feliz. Ele estaria satisfeito com Yui. Sem intromissão de ninguém. NINGUÉM, ouviu bem?
E daí, se “Karoru-chan e Débora-san” não tivessem inventado a porcaria da história de “viajarem para o Nihon de férias, aquele é um país lindo e ainda podemos tentar ir num show do Arashi”, Jun nunca havia cantado música nenhuma pra mulher nenhuma que não fosse a sua namorada!
− O que você...? – Carol tentou argumentar nesse ponto. Yui notara a música que Jun cantara pra ela, afinal.
Mas a outra não a deixou continuar.
− Cala a boca! Quem fala aqui sou eu. Você só escuta!
E continuou lançando farpas. Caroline era feia, sem graça, nunca que o Matsumoto ia olhar pra ela. Ela era retardada se acreditava que ele ia ficar com ela por muito tempo.
− Ele não... – Carol tentou outra vez. E Yui novamente a fez calar.
Urusai! Já disse!
Mas o pequeno escândalo, o showzinho particular de Uemura Yui, estava no fim. Ela ameaçou Carol se tentasse “chegar perto do MEU namorado!”. Encaminhou-se até a porta e com ar totalmente arrogante e completamente dona da verdade, ela lançou para Carol, que estava ainda sentada na cama e chorando, seu último dardo recheado de veneno:
− Se você se aproximar dele, eu te pico em pedacinhos! Me ouviu? PE-DA-CI-NHOS!!!
E saiu batendo a porta.
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− Carol...... – Débora tentou de novo, ainda abraçando a outra, que estava com a cabeça apoiada em sua barriga – fala alguma coisa!
Caroline finalmente fez um movimento. Afastou a amiga, ficou em pé e foi para fora do banheiro. Começou a arrumar a mala que estava no fundo do quarto, mecanicamente pegando as peças de roupa e jogando dentro dela. Sussurrou:
− Dé, eu tenho que voltar para o Brasil.
Débora olhou desacreditada enquanto ela jogava as coisas na mala.
− O quê?
− Isso mesmo. Tenho que voltar. Eu me pergunto: que diabos eu vim fazer aqui?
− Para tudo! – Débora elevou a voz e em dois passos gigantes alcançou Carol. – Você NÃO tem que voltar, e nem PODE voltar. As passagens já estão compradas, esqueceu?
− Eu tenho que dar um jeito. Preciso ir embora daqui. Não quero atrapalhar mais.
− Atrapalhar o quê? Não estou te entendendo... – Débora se sentou em uma das camas e obrigou Carol a fazer o mesmo – Quero que me explique.
De repente, ela começou a falar. Instantaneamente seus olhos ficaram vermelhos e, ameaçaram chorar; alguns segundos depois ela desabou em lágrimas. Fazia tempo que Débora não a via chorar tanto.
− Eu atrapalhei sim. Desde que mandei aquela carta idiota pela primeira vez! Eu sou mesmo uma imbecil! To atrapalhando a vida do Matsujun desde então! Ele me respondeu sempre, todas as vezes, e ainda foi super bondoso comigo....- corrigindo - conosco! Mas será que eu não notei que estou o obrigando a me aceitar em sua vida? Sou uma idiota completa! Yui tem razão. Eles podem ser muito felizes e não precisam de mim para interferir nesta felicidade. Eu tenho que sumir! Eu vou embora!
Agora ela soluçava e suas palavras saiam entrecortadas. Ela deitou na cama, em posição fetal, e voltou a sussurrar:
− Eu preciso ir Dé. Ela tem razão. Eu preciso mesmo ir. O que eu vim fazer aqui? Eu preciso ir. Yui está certa. 
Débora deitou ao lado da amiga e a envolveu com os braços, tentando confortá-la.
− O que aconteceu, Carol? Conte pra mim, conte direitinho. Vamos, eu quero te ajudar. Tire essa ideia da cabeça, você não vai a lugar algum. O que ela te fez? Ela te bateu? Ela brigou com você?
Caroline ficou novamente em silêncio por alguns minutos, e finalmente disse:
− Eu vou te contar Dé.
Secou as lágrimas, se sentou e começou a falar, contar tudinho, desde a hora em que Débora saíra pra almoçar.

***

− E foi isso – ela concluiu, depois de quase uma hora de conversa.
Nessa uma hora, Carol tinha chorado muito. Débora ficara muito indignada e queria ligar para Nino, para ele falar com o Matsujun. Mas eles estavam no show.
Bom, mas quando ele ligasse para ela, ela falaria e exigiria uma atitude. Sua amiga não podia ficar assim. Ela tinha sido agredida, não fisicamente, mas a ferida que Yui abrira era profunda e não parava de sangrar.
Ela esquecera toda a felicidade daquela tarde quando vira a amiga daquele jeito. Até do anel em seu dedo se esquecera. Mas assim que Carol se acalmasse um pouco e desistisse da ideia maluca de pegar o primeiro avião para o Brasil, ela lembraria do anel e contaria a sua história.
Um anel. De noivado. Kazunari tinha posto um anel de noivado em sua mão. Ela ainda não acreditava.
Ele tivera todo aquele problema com namorada no passado, e sofrera pra caramba. Johnny não se compadeceu. Viu-o chorando e não disse nada. Superprotegia “seus meninos”, como um pai muito coruja que não quer nunca que os filhos saiam do ninho. Mesmo que eles sofram com isso. Mesmo que eles almejem por mais independência.
Por isso, Nino não pensou muito quando resolveu assumir Débora como sua namorada oficial. Como sua noiva. Como futura esposa. Afinal, ele já tinha mais do que a idade suficiente para casar. E não queria mais que o Kitagawa-san nem ninguém metesse o bedelho.
Ele não ia largar o Arashi. Não enquanto vivesse. Para ele, aqueles quatro amigos eram mais que irmãos, eram pedaços de si. Se esse era o medo de Johnny e das fãs, era infundado, porque ele nunca poderia se desfazer do Arashi, assim como jamais poderia se desfazer de algum órgão vital.
Mas queria poder viver também, ter um amor. Tudo isso ele explicou para Débora depois que acabaram a refeição.
Dessa vez, ele deixou um pouco a “pão-durice” de lado e a levou num lugar chique, reservado, pois queria privacidade. Pegou então a caixinha com o anel e fez o pedido. Simples assim.
− Deb, não sei se você pode aceitar isso, mas estou arriscando tudo – ele disse – Daisuki dayo, estou completamente apaixonado! Aishiteiru yo! Não achei que isso pudesse acontecer, não comigo.
Débora olhou para ele e seus olhos brilharam com as lágrimas que brotaram no momento exato que ela respondeu:
− Eu aceito me casar com você, Ninomiya Kazunari!
O sorriso dele, quando ela disse as palavras mágicas, foi de orelha a orelha. Não podia se conter de tanta felicidade!
− Ano... eu... eu... claro que a gente não vai casar agora. Não dá, com a tour e tudo o mais, e também você tem uma vida no Burajiru, né – ele disse – Mas realmente estou muito feliz!
Ele pegou a mão dela que estava estendida sobre a mesa e colocou o anel no dedo anelar. 
− É... – Débora pareceu refletir por um momento – eu realmente... mas sinceramente – ela parecia escolher com cuidado as palavras – eu não tenho nada que me prenda lá. Terminei a faculdade ano passado, trabalho num escritório de advocacia, mas creio que isso eu posso fazer por aqui também...
− E seus pais? Amigos? – Nino parecia preocupado com isso. Pensou muito sob esse aspecto antes de fazer aquele pedido inusitado.
− Ano... eu acho que... eles vão aceitar sim. Eles, meus amigos, meus pais, são gente boa, só querem minha felicidade. Mas... acho que, quando chegar a hora, meus pais vão querer que a gente se case no Brasil.
− Hahahaha! – ele riu – Sim, sim, não seja por isso! Se esse é o único empecilho, não é mais. Vamos nos casar no Brasil! Agora... – ele fez uma pequena pausa e olhou para o relógio – Vamos conversar com o querido Johnny Kitagawa!

***

Durante todo o show, Jun só conseguia pensar no que Nino dissera. Yui estava no hotel onde Caroline e Débora estavam hospedadas! Fazendo o quê? Por quê?
Ela estava sentada no mesmo lugar de sempre. Era toda sorrisos, como se nada tivesse acontecido. Como se ele não tivesse ligado antes do show começar. Como se tudo estivesse normal!
Sua vontade era sair do palco e ir até ela, puxá-la para um lugar reservado e arrancar tudo dela, palavra por palavra. Mas não podia. Primeiro que uma atitude impensada dessa iria ferir profundamente os sentimentos de milhares de fãs que tinham ido até ali para vê-lo e aos outros. Segundo que isso não seria nada bom para sua imagem, nem para a imagem do Arashi. Terceiro que iria ser demitido no ato se fizesse algo assim.
Mas bem que ele queria! Estava tão tomado por esse pensamento que sorria falsamente enquanto dançava, a primeira vez em anos, senão desde o início da carreira, que seu sorriso não era natural e sim forçado. Não era por mal, não tinha a intenção de ser falso, mas não conseguia relaxar.
Nem notou a felicidade espontânea do outro membro mais novo. Kazu estava mais empolgado que o normal e a felicidade piscava em seus olhos. Ohno já notara, e queria muito que o show acabasse para poder conversar com o amigo e saber dele o motivo de tanta alegria. Ele sabia que tinha algo a ver com o almoço com Débora-san e o atraso antes do concerto.

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