E que a minha loucura seja perdoada
Porque metade de mim é amor
E a outra metade também.

quarta-feira, 18 de julho de 2012

A Chave de um Coração - Capítulo 18


Capítulo 18

– Jun, me solte! Você está me machucando.
 Ele a arrastava até o carro, indo pelos fundos do Estádio para não ser surpreendido por ninguém. Um boné caía inútil sobre sua cabeça e ele não olhava para ela. Quando ela falou, ignorou e continuou andando.
– MATSUMOTO! Solte-me! – Yui agora falou em tom mais alto, agressivo.
Ele fingiu que não escutou. Chegou até o carro, abriu a porta do passageiro e a soltou lá dentro, batendo a porta e dando a volta para ocupar o lugar do motorista.  Ligou o carro olhando sempre para frente.
– Você vai me explicar o que está havendo ou não? – Yui quis saber.
– Depois. Quando chegarmos eu conto. E a senhorita também tem muito pra explicar! – respondeu sem olhar para ela por um momento sequer, manobrando para deixar o estacionamento.
– Droga, Matsumoto! E o meu carro?
É, ele tinha esquecido daquele detalhe.
– Onde está? – pela primeira vez, ele a espiou com o canto do olho.
– Lá atrás! Eu te disse que fiquei um tempão procurando vaga!
– Uhm, achei que isso fosse mentira também.
Yui olhou para ele, espantada.
– Como é? Que mentira?
– Nada, esquece. Onde está o carro? Vou te levar até ele e você vai me acompanhar até o prédio, ouviu bem! Ai de você se não fizer o que estou mandando!
– Que bicho te mordeu? – Yui encarava Jun com os olhos arregalados e pensava: que diabos ele está fazendo?
– Só me diz onde está o carro.
Ele já fizera o retorno e estava seguindo para o lado oposto, e Yui passou a indicar com as mãos e os braços onde o carro dela estava estacionado. Quando chegaram ao lado dele, Matsumoto parou e destravou a porta para ela sair.
– Segue bem atrás de mim, viu?!
Ele gritou quando ela entrou no veículo estacionado. Esperou ela dar a partida e começou a andar, sendo seguido por Yui.
Assim que ficou sozinho no carro, sua mente começou a trabalhar. Meu Deus, qual foi a merda que ela fizera? Droga viu! Se ela mentiu para ele, era porque ela estava escondendo alguma coisa. Por algum motivo, ela fora ao hotel aquela tarde e não queria que ele soubesse.
Aiai... primeiro as revelações da noite, e agora isso! Ele já não sabia de mais nada. Mas, de alguma forma, começava a entender que sentia alguma coisa por Karorine, afinal. Só isso justificava a alegria que sentiu ao ver os olhos dela brilharem no show, a ansiedade que sentiu por querer saber se ela vinha à apresentação daquele dia e o desapontamento quando suas esperanças foram levadas, e agora, toda a irritação que sentia com a simples suspeita de que acontecera algo com ela e Yui estava envolvida nisso.
Segurou o volante com apenas uma mão e passou a outra sobre os olhos. Estava cansado, precisava de uma cerveja bem gelada para relaxar. Mas provavelmente não iria para o pub daquela vez. Não tinha cabeça para isso. Teria que se contentar com o que tinha em casa. Tomara que Yui não enrolasse muito e contasse tudo de uma vez!
Uma dor de cabeça começava a apontar e ele sabia que era por causa do estresse e do nervosismo. Deu uma olhada no retrovisor; ela ainda o seguia. Pisou fundo no acelerador.

***

Caroline ouvia com atenção o que a amiga contava. Mas podia perceber que ela estava enrolando a conversa, enchendo linguiça, como falavam no Brasil. Percebeu que ela estava relutante em falar de algo. Já fazia quinze minutos que ela descrevia as delícias que ela e Nino comeram no restaurante.
Ela se esforçava para prestar atenção a cada palavra de Débora, mas isso era muito difícil. Se o assunto tivesse enveredado para o foco, que foi o encontro em si, Carol não teria ficado tão distraída.
A conversa que tivera com Yui aquela tarde – ou melhor, o monólogo em que Yui falava e ela somente ouvia – não saía de sua cabeça, nem mesmo com a curiosidade inicial sobre o almoço da amiga. Não tinha dúvidas que ela era mesmo o problema. E a solução era ir embora o quanto entes.
Onde Carol estava com a cabeça quando começou a criar ilusões? Como a Yui disse, ela era tão sem graça, uma pessoa tão comum, que mesmo que Matsumoto Jun terminasse com Yui (e isso Caroline não queria que acontecesse, não por sua culpa) ele nunca ficaria com ela. Esse pensamento a fez suspirar e Débora se interrompeu no meio de uma descrição detalhada do prato principal que eles haviam almoçado e perguntou:
– O que foi? Ta ouvindo minha história Carol?
– Sim, Dé, claro que estou ouvindo! – ela se justificou, sentindo vergonha por estar contando uma pequena mentira para sua melhor amiga; na verdade, ela não sabia nem de que prato Dé estava falando no momento - Mas, você podia pular a parte de descrever a comida e ir logo pra parte que interessa.
Débora sorriu envergonhada e disse:
– Tá bom, tá bom – estendendo a mão com o anel.
Era um anel lindo, dourado e com o pequeno diamante reluzindo na luz. Mesmo com todo o seu esplendor, era bem discreto. Caroline estava com a mente tão cheia de coisas, tão cansada e com a visão turva de tanto chorar que não tinha notado.
– Dé-bo-ra!!! Caramba, quando você ganhou isso?? – ela gritou, pegando a mão da amiga e puxando para mais perto de si, admirando a joia.
– É um anel de noivado, Carol! Foi o Kazu que me deu hoje. Ele me pediu em casamento!
– O quê?! – ela praticamente berrou.
– Isso mesmo. Mas não vamos casar já. Claro, com a tour e tudo o mais.
– Mas e... – Carol soltou a mão da amiga sobre o colchão – Johnny Kitagawa?
– Nós já falamos com ele – Débora passou as mãos pelos cabelos – e ele deixou.
– Vocês já falaram com ele?
– Sim, hoje mesmo. Por isso me atrasei. Estávamos lá no prédio da JE.
– E... seus pais?
– Ah, eles vão entender... hoje mesmo antes de dormir eu vou ligar para eles. A propósito... não vou poder voltar para o Brasil com você. Então acho bom você esquecer essa história de viajar já. Temos ainda uma semana. Então...
– Como assim não vai voltar comigo? – Carol interrompeu a outra e ficou em pé, olhando para a amiga como se ela estivesse louca.
– Não vou voltar. Eu e o Nino combinamos de casar no Brasil e...
– Espera aí Dé! – Caroline foi até o frigobar e bebeu um longo gole de água; estava morta de sede – Vai me explicar direitinho isso aí! E sua passagem? E... você tem certeza, Dé, que quer isso mesmo?
Meu Deus! Ela nunca imaginara isso. Que teria que voltar sozinha para o Brasil. Mas, para ela, Débora ainda estava confundindo as coisas.
Mas Débora garantiu que tinha certeza. Que amava o Kazunari muito mais que uma fã qualquer. A princípio, até achou que era impossível e, na noite passada, quando ele foi visitá-las no hotel, teve dúvidas. Contudo, durante a conversa deles, e tudo o mais, ela concluiu o contrário. Afinal, ele não brincaria com esse tipo de coisa.
Mesmo assim, Carol estava decidida a dar adeus definitivo ao Nihon na manhã seguinte. Porém a perspectiva da uma longa viagem sem a amiga do lado era dolorosa... E não só isso. Sua melhor amiga. Não estaria mais ao seu lado nunca mais.
– Não Dé – ela já tinha os olhos cheios de lágrimas novamente. Carol estava quebrando o recorde; nunca chorara tanto num dia só.
– O que foi agora? – Débora já se levantava e puxava o braço de Carol para abraçá-la novamente – Acho que você está muito sensível hoje. Aconteceu muito coisa!
Carol se achegou e retribuiu o abraço da amiga.
– Eu só... não estou preparada para perder minha amiga – agora, as lágrimas escorriam por sua face.
– E quem disse que você vai me perder?
– Ahhh, Dé! – Carol só chorava.
– Ei, eu to feliz! Você não fica feliz por mim?
– É cla... claro. Mas... es... essa não... é a me... melhor hora. Eu... eu acho que... não consigo ficar muito feliz.
Débora não respondeu. Era melhor esperar Caroline se acalmar. Aquele foi um dia estressante para ela. Mas precisava tirar aquela ideia de viajar no dia seguinte da cabeça dela. Ia esperar até ela sossegar.
Na cabeça de Carol, a confusão não podia ser maior.

***

– Você fez o quê??
Jun não conseguia acreditar no que acabara de ouvir da boca de Yui.
– Isso mesmo que você ouviu, Matsumoto. Eu fui ao hotel da burajirujin para dizer para ela ficar longe de você!
– Não acredito que você fez isso!
Matsumoto Jun e Uemura Yui estavam no apartamento dele discutindo a mais ou menos vinte minutos e ele ainda não conseguira arrancar nada dela. E agora ela disse que foi só dizer para Karorine ficar longe dele! Isso ela já estava fazendo, não é? Não mostrara em nenhum momento que tivesse algum interesse nele desde que chegara.
Desse modo Yui não precisava se preocupar. O único confuso ali era ele, e ele já decidira que não ia se deixar envolver por uma estrangeira que ia embora dali a alguns dias. Então, por que raios ela foi lá? Quem sabe que monte de besteira ela não disse? Conhecendo Yui como conhecia, ele sabia que ela não tinha sido afável. Muito pelo contrário, ela provavelmente tinha sido intimidadora e gritado aos quatro cantos. E agora, com certeza Karorine ficou ofendida e estava brava com ela, e com ele por tabela.
Estava tão irritado com sua namorada que sua vontade era terminar o namoro ali mesmo. Mas não podia fazer isso.  Não podia se deixar levar pelo momento. Já tivera brigas com Yui antes. Quando tudo aquilo acabasse e quando as meninas tivessem voltado para o Burajiru, então era Yui quem ficaria ali com ele.
Sua única opção no momento era tentar corrigir o erro dela. Não podia deixar que isso estragasse uma amizade de quatro anos.
Sua cabeça doía e ele queria resolver aquilo logo. Então disse:
– Vamos agora lá ao hotel. No caminho você me conta PALAVRA POR PALAVRA do que disse a ela!
Uemura Yui se sentou no sofá, cruzou as pernas, colocou as mãos unidas sobre o joelho e respondeu:
– Se quiser, eu te conto agora, porque não vou a lugar algum.
– Ah, você VAI! – Jun gritou – Se não eu vou sozinho e vai ser pior.
Ele estava em pé em frente a ela e a encarava com os olhos fuzilando.
– Você está me ameaçando? – Yui estava com muita raiva agora - E o que eu vou fazer lá? O que você vai fazer lá?
– Pedir desculpas pra Karoru-chan, é isso que nós vamos fazer lá. E eu não to ameaçando ninguém.
– Ah não? Então o que quer dizer com “vai ser pior”? Por que vai ser pior? E eu NÃO vou, Matsumoto, você não pode me obrigar! Só se me levar na marra.
–Não farei isso. – ele se sentou ao lado dela no sofá, mas teve o cuidado de não tocá-la – Você não quer ir, não vá. EU VOU! E agora... – ele massageou as têmporas – me conte tudo!

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